terça-feira, 15 de março de 2011

Coragem e Responsabilidade (II)

Mas a coragem não é só necessária nesses momentos. É preciso coragem, também em momentos de silêncio, de acalmia mediática. Aí a coragem é outra: a coragem de limpar armas, arrumar a casa e seguir mais aprumado.

A retirada de consequências políticas de tomadas de posições específicas, muitas vezes das mais silenciosas, de discursos que não se ouvem e que não se lêem é reveladora da nossa posição na política. A falta de coragem nunca pode ser esquecida, nem se espera que outra seja a consequência, mesmo pelo próprio cobarde.
Quando alguém assume publicamente um comportamento sabe quais as consequências que o espera. No processo de decisão, cada um de nós avalia a bondade, o risco e as consequências que daí podem advir. Se não existe a posterior consequência, torna aquele que tomou a decisão irresponsável e inconsciente, deixa os outros desacreditados e deixa os responsáveis por uma repercussão, descredibilizados e frouxos.
Ademais, se a tomada de posição for contrária a princípios políticos, classificando-a, dessa forma, de uma má decisão, de que vale manter confiança em alguém que já sabemos qual a sua natureza?
A confiança quer do abrangido pela decisão, quer dos outros companheiros estará irremediavelmente comprometida e a consequência política a não existir, determinará por si só a nossa própria inexistência. Porque de facto, naquele momento, no momento em que a coragem é pedida aos outros, nós próprios fugimos da coragem que devíamos ter, e não existimos enquanto grupo.
A coragem entrará então no campo da responsabilidade. Quando pedimos que um determinado governante seja corajoso, queremos dele um determinado comportamento que achamos correcto segundo os nossos valores. E é por esse facto que mais tarde, não havendo correspondência, retiramos a consequência lógica e não votamos nessa pessoa, ou seja, assumimos uma posição de coragem e responsabilidade.
Ao votarmos na mesma pessoa, mantendo o status quo ou quando nos abstraímos dessa votação, colocando-nos de parte, passamos a ser parte do problema e não da solução.
A abstenção, que não seja propositada, é um sinal claro da falta de coragem e responsabilidade. E todos nós lutamos, em todas as eleições contra ela. Esse e este combate por si só são actos de coragem e de responsabilidade, pois, desprovidos de interesse pessoal, assumem não querer manter a situação actual das coisas.
É por isso que, nos dias de hoje, não podemos pedir coragem a políticos que conhecemos pela sua falta intrínseca de coragem, a políticos que conhecemos pela sua actuação pública e política desconcertada se, no mínimo, nós próprios não assumimos posições de coragem.
Note-se que uma posterior posição levará sempre a uma consequência, mas veja-se: há várias formas, silenciosas ou não, discretas ou não, internas ou externas de tomar uma decisão; uma posição de coragem baseada na verdade e sem artificialidade nunca verá a sua razão ou bondade ser discutida, ter coragem é ser responsável e, por último, a coragem é sempre recompensada!

Por: João Paulo Rigotti

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